Entrevista feita pela escritora Dorothea Nürnberg, tendo como mediadora a escritora Gloria Kaiser, aos poetas Mozart Carvalho e Sérgio Gerônimo, durante o lançamento do livro URBANOSEMCAUSA, no dia 10 de janeiro de 2013, às 17h, no Salão Concordia, no PEN CLUB da Áustria, em Viena, sob a presidência do poeta Helmuth A. Niederle.
DN – Hoje vocês estão lançando conosco o fascinante livro de poesia URBANOSEMCAUSA, de suas autorias, sobre as megacidades do mundo na atualidade, especialmente o Rio de Janeiro. Por que escolheram a poesia para expressar seus pensamentos, sentimentos, impressões?
UC – Primeiramente, agradecemos a oportunidade de falar sobre o nosso novo livro URBANOSEMCAUSA. Agradecemos, também, a acolhida por Dorothea Nünrberg, Gloria Kaiser e Helmuth A. Niederle, presidente desta casa o PEN CLUB da Áustria.
Falar sobre o Rio de Janeiro e especialmente sobre ele, a razão é simples, somos cariocas (rio que adormece veias/vielas, corações/coroação carioca, in Carioca) – carioca é o nativo da cidade do Rio de Janeiro. E qualquer situação relacionada a ele nos afeta, sobremaneira.
Inclusive, a razão da escritura desse livro começou com a "tomada do Alemão" (ilustração, in Sociedade Intoxicada), operação policial televisionada exaustivamente, onde uma comunidade, até então, controlada pelo tráfico de drogas é libertada, sendo agora "pacificada" pela ordem institucional governamental.
Sobre o porquê de utilizarmos a poesia, é que ela é, por excelência, o nosso modus operandis. Somos poetas de carteirinha (sou poeta em dedicação exclusiva, in Emprego) e desde os bancos escolares assim nos expressamos. Pertencemos a uma associação profissional de poetas, a APPERJ e atuamos incessantemente na divulgação poética (só assim continuo a criar/meu canto de leitura, in Leitura).
DN – Em seu livro as principais alusões são feitas ao Rio de Janeiro e Nova York, megacidades, que, de acordo a minha ótica, são extremamente diferentes. Como vocês definiriam a característica de uma metrópole? Não somente na quantidade de habitantes e o que mais?
UC – Nós entendemos que Rio de Janeiro e Nova York não são tão diferentes assim (time square, cinelândia/realidade e sonho, in Off Broadway), quando vivenciadas no dia a dia, como Viena também não é. Pensamos que não somente a quantidade de habitantes determinem uma metrópole, e nem os seus limites geográficos, mas interferem sim a variedade de pessoas de diferentes línguas e costumes. Hoje as megacidades são verdadeiras babéis, como a suposta Babel da Bíblia. Esta mistura de matizes diversos é uma característica bem marcante destas novas metrópoles (a poeira é igual/a criatura é igual/as almas divergem, in Minha cidade).
DN – A relação estabelecida por vocês com as megacidades abre um leque de sentimentos: paixão, amor, medo, choque, raiva, desgosto... Vocês citam, também, a perda da dignidade humana nas metrópoles, então de onde vem a fascinação em fazer parte delas ou existe alguma fascinação em ser um cidadão dessa metrópole?
UC – Bem, nós somos fascinados, por exemplo, pela Roma Antiga (acabamos de vir de lá) – Roma Caput Mundi. Ser cidadão romano era a pretensão de todos os indivíduos, em qualquer parte do Império Romano.
A ideia de ser cidadão é que nos traz os direitos e deveres com o outro. Assim sendo surgem todos estes sentimentos que você citou. Certamente que a perda da dignidade é ultrajante, mas colocamos aqui outra evidência: locais não considerados metrópoles, também, não contemplam com dignidade seus cidadãos. O fascinante disso tudo é poder participar dos movimentos, das mudanças, das tentativas de engrandecimento pessoal e coletivo (ser cidadão e ser romano/não suporto ser mais um arábico, in Multidão).
A ideia de ser cidadão é que nos traz os direitos e deveres com o outro. Assim sendo surgem todos estes sentimentos que você citou. Certamente que a perda da dignidade é ultrajante, mas colocamos aqui outra evidência: locais não considerados metrópoles, também, não contemplam com dignidade seus cidadãos. O fascinante disso tudo é poder participar dos movimentos, das mudanças, das tentativas de engrandecimento pessoal e coletivo (ser cidadão e ser romano/não suporto ser mais um arábico, in Multidão).
DN – O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein proclamou: os limites de nossa capacidade de nos expressarmos em palavras são, de fato, nossos limites no mundo.
Descrevendo uma megacidade, todos os seus aspectos através da poesia, poderia nos dar novos insights, novas possibilidades de entendimento e experiência? Talvez, até, novas possibilidades de lidar com as dificuldades?
Descrevendo uma megacidade, todos os seus aspectos através da poesia, poderia nos dar novos insights, novas possibilidades de entendimento e experiência? Talvez, até, novas possibilidades de lidar com as dificuldades?
UC – Nós concordamos com o filósofo Ludwig, mas pensamos, também, que as palavras não expressam suficientemente nossos sentimentos (o que não se pode apagar/é o convite audacioso/para seguir em frente..., in Urbanos). Por exemplo, vocês já viram o olhar de uma criança africana? Ou o sorriso de um bebê indígena em plena floresta amazônica? (aos povos da floresta/resistir às investidas, in Mar Zônia).
Não se precisam palavras! Quando estamos, realmente, observando o mundo a nossa volta, novas possibilidades e novas experiências surgem. A poesia marca o momento, fotografa, sintetiza as palavras. Como disse o poeta Walt Whitman: eu sou contraditório, eu sou imenso, há multidões dentro de mim.